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Fora Sarney é protesto vazio

Fora Sarney, Fora Lula, Fora FHC, Fora Renan… Poderia citar pelo menos mais dez pedidos populares de exclusão de nossos representantes políticos de seus cargos. A pergunta é: resolve tirar do poder a bola da vez no mar de corrupção nacional?

Não sei ao certo.  A revolta da sociedade contra os expoentes da política brasileira é justa, porém efêmera. Soa como paliativo. E não uma solução real que é na estrutura, nas leis que regem os nossos representantes eleitos pelo voto. Cito um exemplo secular de como o estilo de praticar política em terras tupiniquins é o mesmo há tempos.

2009 é o centenário de morte do escritor Euclides da Cunha, que ficou famoso por seu relato fantástico da Guerra de Canudos, em pleno sertão baiano, e pelo caso de adultério de sua esposa Ana de Assis com um cadete do exército, que culminou na morte de Euclides num duelo.

Euclides era, segundo seus biógrafos, um homem reto, com devoção à lei e sempre patriota. Nunca alcançou grande mérito político na carreira, mesmo conseguindo reunir grandes qualidades técnicas e administrativas para o serviço público. E por que Euclides, grande intelectual, não obteve postos de maior expressão na recém-criada república? Porque era honesto e não entendia os conchavos entre os republicanos e os antigos inimigos do regime: os monarquistas. Em 1893, Euclides foi recebido pelo presidente Floriano Peixoto, que lhe ofereceu um cargo público permanente, estável. Prontamente recusado pelo escritor, pois queria que a lei fosse cumprida, sendo submetido a um ano de estágio, depois um concurso público  que o avaliasse em igualdade de condições com os demais. Saindo da sala do Marechal, percebeu que seu destino político não iria longe e reproduziu a  síntese da conversa.

“Quando me despedi, pareceu-me que no olhar mortiço do interlocutor estava escrito: nada vales”.  A descrição de Euclides pode ser analisada sob a luz de todos os tipos torpes de práticas políticas no Brasil. Da política do “Café-com-Leite”, com alternância de fazendeiros mineiros e paulistas no poder; do coronelismo nordestino.  Nossos representantes apenas repetem aquilo que aprenderam durante anos com seus “padrinhos”. E nem a morte apaga os ensinamentos de seus mestres. ACM morreu, sobrou neto e filho para dar continuidade. Sarney já tem filhotes bem adestrados: Roseana e Sarney Filho. Exemplos não faltarão.

O modelo político está equivocado. A forma de protesto precisa ser revista. O conformismo nunca ajudará a modificar. Prometo que não darei soluções. Não as tenho, caro leitor.  Mais uma vez, me ajude. Apenas que reflitamos sobre nosso modelo político-administrativo. Se o presidente Sarney sair do cargo, mudará algo? Quando Renan Calheiros saiu, algo mudou? Ou para mudar temos de modificar nossa postura no dia das eleições?

Anderson Gonçalves

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